domingo, 11 de março de 2012

UM "dirigente" QUE INSULTA AS MISERICÓRDIAS E A POBREZA

Quando ontem ao serão estávamos a ver o Jornal das 20H00, na TVI deparamo-nos com a notícia de criação de 10.000 vagas em lar, anunciadas pelo Senhor Ministro da Solidariedade e Segurança Social. O Senhor Ministro teve o cuidado de referir que tais vagas resultarão da transformação de quartos de uma pessoa que passarão a acolher duas.
Não abordaremos esta questão aqui pois que este espaço se destina, em exclusivo a reflectir sobre a União das Misericórdias Portuguesas (UMP).
Para espanto nosso surge já quase no fim da notícia aquele que se intitula Presidente da UMP (a que propósito?) a proferir as seguintes palavras: Muitas das exigências que estavam a ser feitas nos lares não tinham a ver com a qualidade. Tinham a ver com o luxo. E num país como o nosso, o que é preciso, o que faz sentido, é assegurar a qualidade.
Só poderíamos ser atingidos por um sentimento de profunda estupefacção.
Então esse cavalheiro que se intitula Presidente da União das Misericórdias vem agora dizer que há 10.000 quartos individuais, nas Misericórdias, que são quartos de luxo? Esse cavalheiro é "dirigente" da UMP há 17 anos. Nunca, mas mesmo nunca demonstrou ou melhor nunca deu a entender a ninguém que as Misericórdias estavam a construir lares de luxo e agora negociou com este Governo a transformação de quartos individuais em quartos duplos, afirmando que se trata de quartos de luxo?
Demonstra uma total insensibilidade e desconhecimento da realidade.
Tem que se lhe por a seguinte pergunta: onde é que estão os lares de luxo das Misericórdias e/ou os quartos de luxo?
Só por ignorância ou má fé se pode afirmar que nas Misericórdias existem equipamentos sociais de luxo.
O que se passa na realidade é que este "presidente" do Secretariado nacional (SN) da UMP quis ser subserviente para com o poder, não se importando, minimamente, de prestar mais uma vez um péssimo serviço ao País e sobretudo às Misericórdias. O que lhe interessa, verdadeira e exclusivamente, é manter-se no lugar em que se instalou e a partir daí extrair vantagens económicas para si e para os seus ainda que para tal se tenha que vender a alma ao diabo e desrespeitar a lei e os Estatutos.
O que o "presidente" do SN da UMP afirmou ontem não tem o mínimo cabimento.
Por um lado porque nas actuais circunstâncias será de todo impossível, nos lares existentes instalar mais 10.000 idosos. Não será de todo possível.
Por outro há que garantir o mínimo de privacidade aos idosos acolhidos em lar.
Pensemos um pouco só que seja nos idosos que têm que ir para um lar seja ele qual for de que tipo for.
Ninguém mas mesmo ninguém deseja ir para um lar. A não ser quando não mais nenhuma alternativa.
Os lares para a chamada terceira idade são entendidos como a antecâmara ou a última morada até à hora da "partida". Com esta perspectiva as pessoas idosas encaram os lares como a antecâmra da morte que a sua entrada em lar passam a ver mais perto.
Esta não é a perspectiva das Misericórdias. É a perspectiva das pessoas que se vendo incapacitadas têm que ser acolhidas em lar. E quantas pessoas idosas não haverá que são obrigadas pelas respectivas famílias a entrar num lar?
O que todo o cidadão, verdadeiramente, deseja é permanecer na sua residência de sempre até ao fim da sua vida. Poder usufruir dos seus espaços de partilha com a família e o seu espaço de privacidade que é normalmente o quarto.
Façamos a pergunta a nós próprios: estamos nós dispostos a ser internados em lar com outras pessoas com as quais nunca privamos? E estamos dispostos a partilhar o quarto com quem eventualmente nunca conhecemos?
Só há resposta sincera. A que possamos continuar nas nossas residências de sempre até terminarem os nossos dias por cá por esta Terra.
O que este "presidente" do SN da UMP disse é um verdadeiro insulto às Misericórdias e a todos aqueles que estão acolhidos em lar, já que transmitiu a ideia que os lares das Misericórdias são instalações de luxo.
É infâme este tipo de afirmação que só trás mais e maiores dificuldades de intervenção das Misericórdias.
As Misericórdias não deixarão, certamente, de o questionar sobre mais este dislate proferido sem o mínimo fundamento e mais uma vez tentando ser agradável ao poder não se coibiu de mais uma vez penalizar as Misericórdias.
Pelas palavras deste "presidente" do SN da UMP quererá regressar aos tempos em que os idosos eram acolhidos em vão de escada, em corredores, ou em salas de uso colectivo transformadas em quartos.
É fundamental uma nova filosofia para os lares destinados ao acolhimento das pessoas idosas. A actual filosofia ainda é, em certo sentido, derivada dos albergues e asilos.
É essencial uma mudança radical na forma de encarar os lares de idosos. Até porque cada vez mais os actuais lares da terceira idade nas Misericórdias são autênticas unidades de cuidados continuados.
Faça-se uma avaliação da realidade dos lares das Misericórdias em Portugal e compare-se com o que está a ser feito na Rede de Cuidados Continuados. Certamente se chegará à conclusão que pouca diferença existe um lar e uma unidade de cuidados continuados.
Este estudo poderia e deveria ser feito no âmbito da UMP.
E até seria fácil. Bastaria para tal aproveitar os recursos internos de que dispões. Que são bons. Em vez de os despedir.
E como sempre acontece nestas circunstâncias e por incrível que pareça, este "presidente" do SN da UMP não teve pejo nenhum nem o mínimo de consideração por aquelas funcionárias muito de si deram às Misericórdias. Podermos mesmo dizer que este "presidente" do SN da UMP procedeu a um despediemnto colectivo, mandando para o desemprego o que de melhor tem a União das Misericórdias Portuguesas.
Há vergonha.

2 comentários:

Anónimo disse...

Mais 10000 lugares em Lar para quê? O que se está a verificar é a retirada dos idosos dos lares para que as famílias possam dispor das suas reformas que, muitas vezes, são o único dinheiro que entra na casa.

Anónimo disse...

O mesmo Ministro que afirma não haver dinheiro no orçamento de Estado para celebrar novos acordos de cooperação na valência Lar de Idosos, decide simultaneamente que onde cabe um cabem dois(ou 3)
Teria graça, se não estivessemos a falar de Seres Humanos, na última fase de uma vida de árduo trabalho, usufruindo de reformas de miséria, que têm direito à máxima dignidade na forma como a sociedade os trata.
Então Srs. Dirigentes entendam-se lá: é um luxo num quarto dimensionado para uma cama, ter apenas uma cama???
Diz o ditado que quem não morre em novo, à velhice não escapa! É isto que todos os Srs. "Dirigentes" esperam que lhes façam??? E ainda pedirem a majoração às famílias até atingir o custo de referência?!
De certeza que não estamos a falar de MISERICÓRDIA