sábado, 9 de outubro de 2010

Uma guerra anunciada em nome da Misericórdia

Uma guerra anunciada em nome da Misericórdia

Escrita em Dia
2010-10-09 autor
Costa Guimarães

Se conhecermos bem quem as domina durante décadas e décadas, perpetuando-se no poder durante décadas, não nos surpreende em nada, a guerra que agora se instalou entre as (ditas) Santas Casas e a Igreja Católica.

A forma como reagiram mostra que, de santas, apenas possuem o nome e há muito esqueceram que a Misericórdia é o novo nome da Justiça de Deus, que sangra na cruz de Jesus Cristo.

As ditas Santas Casas de Misericórdia portuguesas, na sua imensa maioria, tem objectivos neo-testamentários (as catorze obras, sete corporais e sete espirituais) mas mantêm uma orgânica judaizante e vetero-testamentária, entenda-se monárquica e fechada em pequenas células que só se abrem ao enriquecimento patrimonial e ao lucro.

Estas Santas Casas “não aceitam” a legislação que as converte em associações públicas de fiéis, tornando-as dependentes dos bispos, quanto à administração dos bens e eleição(?) dos dirigentes.

Além disso, o carácter esotérico (fechado) em que vivem e o modo como engordam o seu património (em troca de subida na lista de espera de idosos e das suas reformas) transformou-as em estigmas cancerosos do catolicismo e um dos maiores escândalos do catolicismo em Portugal.

O comunicado de ontem recomenda ao Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas “que não prossiga qualquer tipo de diálogo” com o episcopado “enquanto o Decreto Geral não for retirado”. Maior prepotência e intolerância dificilmente encontraremos na sociedade portuguesa com a inqualificável falta de inteligência e elegância dos seus dirigentes.

O momento em que mais de dois milhões de portugueses vivem — em extrema pobreza — aconselhava a uma postura mais evangélica se tivessem algo mais que o nome de casas Santas. Quem não tem não pode d ar.
É a prova provada — que muitos nunca quiseram ver mas que já várias vezes aqui denunciámos, com documentos — de que muitas destas instituições vivem sob o manto da Igreja — o mesmo que encobria os escândalos sexuais — mas recusam liminarmente qualquer acto que as torne transparentes diante dos portugueses que contribuem para a sua manutenção com base em critérios familiares, obscuros e de amiguismo cujas provas não é necessário andar muitos quilómetros para mostrar a quem quiser ver.

Com total desaforo de impunidade e qual infalibilidade papal, a União das Misericórdias Portuguesas “insta” a Conferência Episcopal a retirar, 'com humildade', o novo ordenamento jurídico canónico e a “repensar” de maneira dialogante a sua relação com as Misericórdias.

Como é que dirigentes sem qualquer humildade — que se recusam a acatar inspecções dos organismos do Estado que os financia — “instam” a uma atitude humilde da Hierarquia?
Como é que dirigentes que rejeitam o diálogo com a sociedade que o(a)s suporta exigem diálogo aos Bispos portugueses?

O Povo de Deus não precisa destes novos vendilhões do Templo e passa muito bem sem eles. Oxalá, os bispos portugueses não cedam a esta chantagem de dirigentes de poderosas instituições que exploram as famílias e se alimentam com os impostos de todos nós, com a cumplicidade de um Estado incompetente que não sabe onde aplica o seu dinheiro.

A Igreja não precisa destas sacristias onde se paramentam estes sacristãos que são o descrédito do Evangelho.

O “Sal da terra” não se compadece com abusos e a “Luz do Mundo” não entende a opacidade destas instituições que, em nome do Estado (para não invocar o nome de Deus em vão), deviam ter paredes de vidro.

Correio do Minho

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